sexta-feira, 15 de abril de 2011

Não me Deixes


Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão

À corrente, onde bela se mirava…

“Ai, não me deixes, não!”


“Comigo fica ou leva-me contigo

“Dos mares à amplidão;

“Límpido ou turvo, te amarei constante;

“Mas não me deixes, não!”


E a corrente passava; novas águas

Após as outras vão;

E a flor sempre a dizer curva na fonte:

“Ai não me deixes, não!”


E das águas que fogem incessantes

À eterna sucessão

Dizia sempre a flor, e sempre embalde:

“Ai, não me deixes, não!”


Por fim desfalecida e a cor murchada,

Quase a lamber o chão,

Buscava inda a corrente por dizer-lhe

Que a não deixasse, não.


A corrente impiedosa a flor enleia,

Leva-a do seu torrão;

A afundar-se dizia a pobrezinha:

“Não me deixes, não!”


(Gonçalves Dias, in Gonçalves Dias: Antologia, por Maria Antonieta Vilela Raymundo)



**Às vezes queremos tanto algo, ou que esse algo não nos abandone, que somos cegados, e não vemos que isso pode ser a nossa destruição... Então, deixemos o que for de ir, que vá... Pois o que tem que ficar, o que tem que ser, coisa ou pessoa não se vai completamente, e tem muita força para acontecer.**

Um comentário:

  1. Verdade, Juliana! Às vezes, é melhor ouvirmos nosso coração e acreditarmos na força que ele tem de decidir que caminhos devemos tomar. Ir ou ficar, ter ou ser, rir ou chorar! Bjs e bom fds!:)

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