quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Para ti...




Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti
criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que falhei
o sabor do sempre

Para ti
dei voz, às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo
estava em nós

Nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos,
simplesmente porque
era noite
e não dormíamos.

Eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos,
vivendo de um só olhar
amando de uma só vida.
 
(Mia Couto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coração Primaveril

  Das invernais madrugadas não me recordo mais. Senhor dos tempos da ventura despiu-me de toda a névoa, vestiu-me de amanhecer...