quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Florescência Solar



Diante da aridez da minha vida
Rebentou sua primavera colorida
Pétalas douradas laureando sua fronte
Majestosa estrela-solar de um jardim luzente.

Seus lábios desabrocham tal tímido botão!
Versicolor miragem, delicada visão...
Que aos poucos ganha brilho e viço
Cor e cheiro, produzem seu sorriso!

Sua pele aveludada e macia,
Rosa que ao meu corpo acaricia...
Em singelo solo se fez rainha-flor
De todas que brotam ao meu redor!

Quem dera inebriada pelo seu aroma,
Em tua calmaria me pudesse aconchegar,
Mas assim o destino não quis...
Fez você florir longe de mim!

Conto o tempo, projeto minha mente...
Para novamente, em pleno deleite,
O Girassol real possa notar-me no céu,
Voltar-me sua face e coroar-me seu sol!

(Frederico Bernardes e Juliana Alves) 


Disponível também no blog: Recôndito das Causas Perdidas

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ambiciosa


Tantos passam por mim, 
cobiçosos a meu corpo profanar...
Desenxabidos espectros, 
pensam ser dignos de tal pretensão.
Intitulam-se poderosos conquistadores,
mestres na arte de seduzir.
Arrogantes, crédulos capazes 
de a mítica Atlântida desbravar.

Sinto-os como lobos
com afoitas garras me cravarem...
Proferem seus ardilosos anseios 
como frutos das melhores intenções.
- Mas quantos lobos atrozes atacaram
Só para o deleitoso instinto satisfazer!

Minha alma, fulgorosa chama
de meu sagrado templo,
Aos céus, aguerrida interroga: 
Amor de homens vulgares?
-Terra tão subjugada, de ares tão vis!

Recuso-me com precários intentos me bastar, 
Do Universo desejo bem mais... 
Um homem? 
- Quando eu sonho um amor pleno de um deus!
Rei-Sol fulgente, que ao iluminar meu jardim 
os malfadados lobos afugentará.

(Juliana Alves)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Fanatismo


 
Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah!  Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."
 
(Florbela Espanca)

domingo, 28 de agosto de 2011

 
"Sentia-se naquela fermentação sanguínea, 
naquela gula viçosa de plantas rasteiras 
que mergulham os pés vigorosos na lama preta 
e nutriente da vida, 
o prazer animal de existir, 
a triunfante satisfação de respirar sobre a terra."

(Aluísio de Azevedo)

domingo, 21 de agosto de 2011

Do Sonho de Ícaro ao Amor




Houve um tempo em que me via em um labirinto
Aonde todos os caminhos só conduziam a desilusão...
De amargura fortifiquei minha prisão!
Assistia a vida por pequenas frestas,
Insípida me parecia...

Minha rotina, abafada e sufocante,
E gélida em alguns momentos...
Tirou-me a graça de todo o restante.
Sem o calor de um corpo a me envolver,
Sonhos solitários transformaram-se em desgosto
Que me roubara o encanto do amor.

Até que, surreal efígie luminosa,
Vislumbrei de soslaio...
Ao conhecer a ti, ser solar,
Desejei tocar-te a imprescindível luz.
Quis me libertar, das correntes me expedir!

Anjo resplandecente,
Que a minha alma infundiu novo brilho...
Como chegar a ti, se presa estou ao chão,
Em abissais ruínas...
E tu em inalcançável altura e plenitude jazes?

Um plano audaz arquitetei,
Qual uma bela fênix, adornei-me!
Penas de gaivota, tintas coloridas, ceras infindas...
Amplas e resistentes asas soergui...
Renovada seiva em mim se fazia circulante,
O desejo latente tornava-se (ex)poente.

Cada lembrança do seu ansiado ser,
Ateava-me um doce contentamento...
Oásis de fulgor, meu coração de esperanças aquecia...
A Era da Tristeza se esvaía...
De tanto suspirar, minha alma,
Qual uma pluma ao vento, flutuava...
Minhas asas sob poder divino se alargavam,
A tombar os muros da prisão!

Ser livre me fiz e não podia ser tão feliz!
Como um balão de infinitas cores...
Aprendi a voar nas asas da liberdade!
Pra somente a ti, majestoso redentor,
Poder alcançar e tua terna aura tocar.

Sonho intrépido, tal qual um mergulhão...
Nos céus a ascender e a plainar,
Muitos mundos curiosamente contemplar...
E das águas, obter o frescor e o alimento...
Livre-arbítrio, o teu sustento!

Sob o céu crepuscular, no teu jogo de esconder,
Descobri-me farol, estrela d’alva a conduzir...
Viajantes perdidos na eterna jornada do viver.
Pude sentir o deleite de ser quem sou
E a audácia de trilhar caminhos
Que ninguém nunca trilhou.

Surpreendi-me novamente...
Ao sentir meu coração,
Em sonoro tom pulsante avisar
Que se vive e não se finge,
Apesar das sombras no porão.
Deve-se pedir não mais que permitir...

Somente ir, voar, amar, subir...
Ascender o mais alto que se for capaz...
E repetir o amor que lhe inspirar...
Mesmo sem de fato o alcançar...
Toda vida pode ser verão!
Pois apenas amar já satisfaz.
Amar já é encher-se de luz
E a todos iluminar!

Ao amar é que se atinge o aspirado e verdadeiro lume.
Pois um dia o sol de obstinada busca
Derrete a cera que nos compõe...
Nossas asas, inventadas e mal sustentadas,
Já não nos bastarão!
E de tudo o que resta enfim, é o amor...
No mais alto lugar, dentro de nós...
Nosso coração!

(Juliana Alves)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Corcel Negro


Quem vê a ti, livre a cavalgar pelas campinas,
Veredas infindas, sob o argênteo luar...
Não imagina que ao longe,
Há uma mulher a querer-te domar...

De porte imponente, olhar veemente...
Dorso negro, manto denso de brilho espelhado.
Espécime da mais alta linhagem,
Arisco e selvagem...
Instigou-me a provar de tua liberdade.

Amazona audaz, fui ao teu encontro.
Seus olhos, poços de mel, ao focar os meus,
Sorveram minha razão,
Fascinação!
Ao toque, o arredio se fez dócil,
Doce ilusão!

Fiz-me teu par fiel,
Cavalgamos por empíreos mundos...
Tua crina, meu arrimo...
Teu trote, minhas asas...
Almas ferinas compondo uma só!
Hermética experienciação,
No dorso de um unicórnio!

Mais tarde me abateria dura queda...
Não negarias por mim teu instinto...
Tua natureza é ser liberto...
Sem raízes, sem dona...
Teu coração ninguém doma!

Fez-se nefasta minha realidade!
Passo a vida a te esgueirar...
A almejar ser senhora do teu destino
E acalmar-te esse vazio desatino...

Sem ti, são ermos os meus caminhos...
Todas as noites fico a sonhar...
Ter-te sob meu abrigo,
Ser para ti água fresca e calmaria...
Ainda, centelha de fogo
Que te apetece e aquece...
Corcel Negro, meu desafio!

Atroz levou-me a paz,
Deixou-me o frio e o vício.
Pelos vales a trotar,
Aventuras mil a perpetrar.
Teus desejos a satisfazer...
Somente pelo desvario
De a nada querer se prender.

Corcel Negro, ninguém te põe cabresto!
Mesmo assim, sempre retornas
Ao teu saudoso e seguro remanso...
Meu peito ainda pulsa ávido,
Ao prenúncio do teu galope.

Desnorteio-me ao mirar
A imensidão amendoada do teu olhar...
Efígie divinal a predizer:
“Um dia permitirei que sejas dona do meu coração,
Me domarás e me campearás...
Terás a seara de um amor pleno,
Como prêmio de tua inabalável dedicação...
Um dia...”


(Juliana Alves)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Noturna



Obscuras horas onde o mais íntimo da alma se revela,
Aspira, inspira e transpira, sob a luz do luar...
Os mais soturnos sentimentos e profundos desejos.
Delírios vaporosos, ilusões febris...
Na inebriante treva, corpos quase a flutuar...

Solitária dos amantes inatingíveis,
Berço onírico onde tudo se concretiza.
Frescor depois do incansável labor,
Parque de diversões, onde todo gato se faz pardo
E brinca sua vida sem lei!

Palco de astros e estrelas, descortinados em própria luz...
Pintura instigante aos olhos dos poetas,
Que cingem em palavras vários mundos...
Mar argênteo, viagem de mil e uma noites...
Odisséia pitoresca pelos infindos gozos,
Véu de intermináveis elucubrações!

Ah noite minha, idílica dimensão!
Quem me dera sorvê-la, extasiante elixir da juventude...
Tornar-me parte sua, imensidão e escuridão.
Noturna, poder contemplar do camarote da infinitude...
O suspirar de toda a gente a almejar...
Os teus nebulosos mistérios decifrar!

(Juliana Alves)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Profanação



Horas silentes, em que o anseio se faz eloquente.
Sinto teu olhar candente a me despir...
Minha alma, minhas dores, meus pudores...
As armas que me vestem, prontas a ruir.

Horas rubras, noites de volúpia...
Em fogo, tombam os astros... Lânguido luar...
Aromas almiscarados exalam ao toque de nossas peles.
Na junção dos lábios, sol da meia-noite a surgir.

Horas invocadoras de saudosas lembranças...
Sou chama e neve, branca e misteriosa.
Mas na madrugada, sob teu domínio me visto de carmim...
E sou enfim, oh meu poeta, o beijo que procuras!
Do fraternal, se faz o pagão... Doce Profanação!

Mas se Deus fez nossas bocas (quentes) para beijar,
E nossos braços, perfeitos laços a envolver...
Sinto aos céus nossos corações a palpitar!
Rogo! Tal ato de tão divino, não carece requerer perdão!
Maior punição eu já tenho: ter-te somente assim, em profana-ação.

(Juliana Alves)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Gueixa



Moça de olhos puxados, bem delineados, 
em mangá jamais assim expressos...
Mar do oriente, em que se navega em mistérios,
estrela nipo-solar.
Desde tenra mocidade, 
instruída na arte milenar de servir e amar.

Alva flor de lótus, a mais lodosa água purifica, 
com seu canto, dança e magia.
Do salgueiro, tens a flexibilidade, força e graça.
Vestes de calmaria e primavera, sedas atapetam tuas sendas.
Madeixas negras, madrugada estrelada, 
brilho de lâmina de espada.

Moça-Gueixa-Samurai, 
boneca de louça dos lábios carmim.
Delicado origami, em inocência, seduz...
Dilema a enfeitiçar...
Luz desse sol nascente, 
que invade e entorpece assim de repente...

Linhagem beligerante, 
traz estampada em seu rosto a dualidade,
Bandeira branca e vermelha, proteção e “perigo”...
Efeito Kamikase, voragem a sorver quem muito a mirar.
Na alma, em verdade, toda mulher se faz gueixa 
quando está a amar.

(Juliana Alves)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

5º Selinho

Selinho super-especial que ganhei da Nayara Maranthya: Inefável


Escrever cinco coisas que te tiram do tédio:
Amigos, livros, blogs, versejar, ouvir música

Blogs que me tiram do tédio:

domingo, 7 de agosto de 2011

Esfinge



Trago na alma um mistério,
Nos olhos, borboletas áureas, ardentes...
Da Quimera descendente.

Fiz-me filha dos versos...
Porta aberta para o meu reverso.
Pelas vertentes, ser indulgente de alva candura...
Às vezes, uma criatura de pedra, estátua dura.
Imponente, em reduto solar, a desafiar...
Àquele que ousar a essência me alentar.

Vejo olhares a me fitar...
Não me sabem fera ou mulher,
Incógnita aos laicos insalubres.
Duas partes confluentes, ambas eloqüentes...
Bradam em desespero, apelo mudo...
- Decifra-me ou te devoro!

Sigo alada, ávida a ser decifrada...
Sem aos céus alcançar,
Inúmeros a devorar...
Solitária existência, a procura de findar essa ausência
De um ser incompreendido, sem a sua completude.

Se algum dia, Édipo o meu mistério decifrar...
Caberá em ternura me render,
Por seus lábios, devorada ser...
E em Anjo-Mulher alvorecer,
No sacro-solar de uma eternidade.

(Juliana Alves)

sábado, 6 de agosto de 2011

Da miragem de um olhar



Quando teu olhar paira sobre o meu,
Uma centelha divina declina dos céus...
Toca minha fronte como uma benção,
Prece nascida do coração de Deus...

Ao vislumbrar por esse teu olhar o recôndito empíreo,
Reconheço a taça de maná que me foi prometida.
Sorvo, ávida, cada gota da prodigiosa inclinação de nossas almas.

Então, ouço tua voz, análoga ao sussurro de um anjo...
Falando em mim o que nunca antes foi dito,
Prenúncio de felicidade...

Tua presença, assim se faz pujança celestial.
Arco íris a vibrar tuas cores em minha aura...
Agitação dos sentidos, todos aturdidos...
Frenesi de sensações...

A tez a aquecer, rubra a me fazer...
Vaporosa, não me delimito,
Faço-me toda luz, reflexo do fanal de tua flama.
Amorosa, flutuo em tua calma...

Aconchegada, resvaleço em ternura,
Embebida pela doçura de teus versos...
Tecidos por sua essência, seiva de minhas vocações...
Manancial de minha eterna renascença.

Leve inspiração que entra pelos poros,
arraiga-se em minh’alma...
E faz-me sobrescrever esses deleites.
Assim como, os mais preciosos manuscritos 
de uma existência paralela,
Alelo de minha criação... 

Eterna alusão ao teu ser ansiado pelo meu...
Que não se sabe onde ou quando se encontraram,
Se por sonho ou realidade,
Mas pelo fulgor de um olhar!

(Juliana Alves)

Coração Primaveril

  Das invernais madrugadas não me recordo mais. Senhor dos tempos da ventura despiu-me de toda a névoa, vestiu-me de amanhecer...