quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Ecdise...


"(...) depois de saber às vezes tudo muda, inclusive a carne, ou a pele que se abre, ou algo que se rasga."

(Javier Marías)


"E o que vejo, no escuro desta corrida a que me agrilhoo na ilusão de uma escolha que já não tenho, é o veludo da tua pele, o ferro do teu corpo fundindo-se ao meu."

(Inês Pedrosa)


Nosso amor é coisa de pele, ele dizia, num passado mais distante que o dos faraós egípcios. Ela achava lindo e respondia que quando ele tocava a sua pele, era a alma dela que se arrepiava. ‘Minha melhor roupa é a tua pele’, e a memória daquela frase a invadia com a força de uma possessão demoníaca.

(Carina B.)


"Não há memória mais terrível do que a da pele; a cabeça pensa que esquece, o coração sente que passou, e a pele arde, invulnerável ao tempo."

(Inês Pedrosa)


Olhou-se no espelho e só enxergou o vermelho-carne. O demônio possuía não só sua memória, mas seu corpo. Ou talvez ela tivesse se transformado no demônio. Quem sabe assim eu esqueço, falou sozinha, ou para o outro no espelho, e então entendeu:

 “a pele arde, invulnerável ao tempo.”


...só as cobras trocavam de pele... Mas ela, Naja desde a época de Cleópatra, conhecia o próprio veneno e sua cura. A pele antiga já caíra e a ecdise estava quase completa.

(Carina B.)


“O que será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar”

(Chico Buarque)


No dia em que estreou a nova pele na areia escaldante do Arpoador, alguém lhe encostou dedos gelados.

(Carina B.)

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