segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Coração Primaveril

 
Das invernais madrugadas não me recordo mais.
Senhor dos tempos da ventura
despiu-me de toda a névoa,
vestiu-me de amanhecer....
És tu senão a primavera que eu esperava...
A vida colorida e multiplicada,
em que se faz pleno e perfeito cada instante.

(Juliana Alves)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Não se pode escolher o amor...


"Mas o amor, essa palavra… Moralista, Horácio, temeroso de paixões sem uma razão de águas fundas, desconcertado e arisco na cidade onde o amor se chama com todos os nomes de todas as ruas, de todas as casas, de todos os andares, de todos os quartos, de todas as camas, de todos os sonhos, de todos os esquecimentos ou recordações. Amor meu, não te amo por ti nem por mim nem pelos dois juntos, não te amo porque o sangue me faça te amar, amo-te porque tu não és minha, porque tu estás do outro lado, desse lado para onde me convidas a saltar e não posso dar o salto, porque no mais profundo de tudo tu não estás em mim, e não te alcanço, não consigo passar para lá do seu corpo, do teu riso, há horas em que me atormento por saber que tu me amas (como gostas de usar o verbo amar, com que pretensão vais deixando cair o verbo amar sobre os pratos, os lençóis e os ônibus), atormento-me com o teu amor que não me serve de ponte, pois uma ponte não se apóia de um lado só, Wright ou Le Corbusier jamais farão uma ponte apoiada de um só lado e na me olhes assim com esses olhos de pássaro, para ti a operação do amor é muito fácil, tu ficarás curada antes de mim, e a verdade é que não amo aquilo que amas em mim. É claro que tu depressa te curarás, porque vives na saúde, depois de mim será outro qualquer, isso muda como os espartilhos. É tão triste ouvir o cínico Horácio que deseja um amor passaporte, amor alpinista, amor chave, amor revólver, amor que lhe dê os mil olhos de Argos, a ubiqüidade, o silêncio no qual a música é possível, a raiz na qual se poderia começar a tecer uma língua. E é ridículo porque tudo isto dorme um pouco em ti, seria suficiente submergir-te num copo de água, como uma flor japonesa, e estou certo de que, pouco a pouco, começariam a brotar pétalas coloridas, as formas curvas aumentariam, a beleza cresceria. Doadora de infinito, eu não sei tomar, perdoa-me. Tu parece oferecer-me uma maçã e eu deixei os dentes sobre a mesa de cabeceira. Stop, tudo já está bem, assim. Também sei ser grosseiro, note bem. Mas note bem porque não é gratuito. Por que stop? Por medo de começar as fabricações, são tão fáceis. Tira-se uma ideia de algum lugar, um sentimento de outra estante, amarra-se tudo com a ajuda de palavras, cadelas negras: e resulta que te amo. Total parcial: te amo. Total geral: te amo. Muitos amigos meus vivem assim, sem falar de um tio e dois primos, convencidos do amor-que-sentem-por-suas-esposas. Da palavra ao ato, meu amigo; em geral, sem verba não há comida. Aquilo que muita gente chama amar consiste em escolher uma mulher e casar com ela. Escolhem, juro, já os vi. Como se se pudesse escolher no amor, como se amar não fosse um raio que quebra os ossos e nos deixa paralisados no meio do pátio. Tu dirás que eles escolhem porque-a-amam; creio que é o contrário. Não se pode escolher Beatriz, não se pode escolher Julieta. Não podemos escolher a chuva que nos vai encharcar até os ossos quando saímos de um concerto. (….)

(Julio Cortázar)


terça-feira, 1 de julho de 2014

Que Julho traga sossego não só pro corpo, 
mas para alma também.
Que nesse mês os bons sentimentos estejam livres para descansar em nós, e agregar o que for mais genuíno, leve e produtivo.
Quero em Julho tirar férias dos pesos, dos maus olhados e bocados, quero ter olhos só pro que me ilumina e acrescenta.
Que julho seja regado a trigo, mel e benesse e que a fornalha do coração esteja acesa pra produzir o pão de cada dia.
Que assim seja!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Missiva Antiga




Perdoa-me a indelicadeza de desnudar-me a ti. Talvez eu perceba que poucos me compreendam e saiba que podes compreender-me mais que todos os demais. Ademais, preciso revelar-te que já nos conhecemos.

Eu não sou destas paragens e estou neste planeta por breve passagem. Há muito soube que estrelas se desintegram. Soube ainda, ao ler os lábios de um anjo, que sou feita da poeira de uma estrela muito antiga e, em face de tal revelação, pude compreender o mundo e compreender-me em meu mundo.

Desprezo, sem pensar, tudo aquilo que me prende à matéria, ao chão, ao desejo de ter aquilo que vejo. Aprendi muito cedo que os sentidos não nos dão a perfeita dimensão das coisas e nada valoro que esteja ao alcance da mão. É que, feita de matéria etérea, eu sou o meu próprio castelo de ilusões intangíveis e emoções inventadas. Sou poesia que apronta, encantando, um verso que iluminará o dia que por certo nunca chegará, mas não se cansa (eu não me canso) de aprontar...

Os “nãos” que as vidas de minha vida, em suas idas e vindas, disseram, nem mesmo chegaram a machucar-me a alma. Sou a suficiência plena da simplicidade e da calma. Minha alma é leve e releva a gravitação da gravidade do mundo.

Ser poeira de estrela é ser pouco, rarefeita, imperfeita reestruturação de moléculas. Mas concedi à minha imperfeição a feição de obra prima e decidi amar-me acima da poesia de todas as coisas.

Saiba, é segredo, mas toda noite visito o firmamento, minha antiga morada, e ali consigo nutrir-me de alegria. Trata-se um sítio sagrado, templo enluarado onde o orvalho de fato tem raiz, pode ser cultivado sem sol e arado de sonho. Foi nesse outro mundo, (sei que não te lembras) que te conheci.

(Nara Rúbia Ribeiro)


segunda-feira, 31 de março de 2014

No te enamores




"No te enamores de una mujer que lee, de una mujer que siente demasiado, de una mujer que escribe...

No te enamores de una mujer culta, maga, delirante, loca. No te enamores de una mujer que piensa, que sabe lo que sabe y además sabe volar; una mujer segura de sí misma.

No te enamores de una mujer que se ríe o llora haciendo el amor, que sabe convertir en espíritu su carne; y mucho menos de una que ame la poesía (esas son las más peligrosas), o que se quede media hora contemplando una pintura y no sepa vivir sin la música.

No te enamores de una mujer a la que le interese la política y que sea rebelde y sienta un inmenso horror por las injusticias. Una que no le guste para nada ver televisión. Ni de una mujer que es bella sin importar las características de su cara y de su cuerpo.

No te enamores de una mujer intensa, lúdica, lúcida e irreverente. No quieras enamorarte de una mujer así. Porque cuando te enamoras de una mujer como esa, se quede ella contigo o no, te ame ella o no, de ella, de una mujer así, jamás se regresa..."

(Martha Rivera Garrido, poeta dominicana)


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014



"Aeroportos e rodoviárias já viram beijos 
mais sinceros do que casamentos.
Paredes de hospitais já ouviram preces
mais honestas do que igrejas..."

(Autor Desconhecido)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Do que era....



Era a minha fome, era minha loucura, era minha lâmina, meu arrepio, meu sopro, meu assédio, um teorema infindo... 

Sublimou em buraco negro o lugar de meu coração, voragem a desregular o modo de funcionamento de minha alma, de minha relação com meu próprio discurso, conjecturas vãs e suficientes até então. Agora, o suficiente se tornou apenas o necessário. 

O amor não é um lugar – era essa a minha certeza eclesiástica desenhada pela minha voz a mim mesma. Você desregulou a fórmula: o amor é um lugar? O amor materializou-se em um corpo. 

Sei que estou idealizando, eu sei. Sei que tudo é pretexto, falando de mim, só de mim, sei que estou aceitando a possibilidade (e ainda usando você como pretexto) de que a fórmula anterior se torne o oposto, assim: o amor é um lugar, chave central da ficção que temos que ser se quisermos que a vida seja possível, pelo menos. Não, também não concordo com isso, o que pouco importa, porque, afinal as coisas são tais e quais a nossa fragilidade permite dizê-las. 

Ah, e essa fragilidade, sempre subentendida em minha essência, fala alto sobre você... Até mesmo em silêncio, na prece exalada pelos meus poros, impetrando o lugar que ainda não cheguei, o amor.

(Das memórias de um coração errante...)

(Juliana Alves)

Coração Primaveril

  Das invernais madrugadas não me recordo mais. Senhor dos tempos da ventura despiu-me de toda a névoa, vestiu-me de amanhecer...