Era a minha fome, era minha loucura, era minha lâmina, meu arrepio, meu sopro, meu assédio, um teorema infindo...
Sublimou em buraco negro o lugar de meu coração, voragem a desregular o modo de funcionamento de minha alma, de minha relação com meu próprio discurso, conjecturas vãs e suficientes até então. Agora, o suficiente se tornou apenas o necessário.
O amor não é um lugar – era essa a minha certeza eclesiástica desenhada
pela minha voz a mim mesma. Você desregulou a fórmula: o amor é um
lugar? O amor materializou-se em um corpo.
Sei que estou
idealizando, eu sei. Sei que tudo é pretexto, falando de mim, só de mim,
sei que estou aceitando a possibilidade (e ainda usando você como
pretexto) de que a fórmula anterior se torne o oposto, assim: o amor é
um lugar, chave central da ficção que temos que ser se quisermos que a
vida seja possível, pelo menos. Não, também não concordo com isso, o que
pouco importa, porque, afinal as coisas são tais e quais a nossa
fragilidade permite dizê-las.
Ah, e essa fragilidade, sempre
subentendida em minha essência, fala alto sobre você... Até mesmo em
silêncio, na prece exalada pelos meus poros, impetrando o lugar que ainda
não cheguei, o amor.
(Das memórias de um coração errante...)
(Juliana Alves)