"As
margens do riacho, outrora plácidas, estão mortas e surdas. Já não
ouvem o brado retumbante do povo que de herói se fez refém dos
mercadores de ilusões.
A
luz da liberdade, que brilhava em raios fúlgidos, hoje se coa
penosamente entre as nuvens negras da corrupção que escurecem o céu da
Pátria.
A igualdade foi penhorada em cotas desiguais, pelo braço forte de um conquistador...
E continuamos desafiando a própria morte, não mais no seio da liberdade, mas na selvageria do tráfego e do tráfico.
Deus te salve, ó Pátria amada!
O
sonho se transforma em pesadelo, e já não há fé no amor... talvez só a
esperança desça à terra. Pois o Cruzeiro ainda resplandece no Céu.
Tua
natureza sofre, gigante! Impávidos os homens exploram-te belo e forte,
sem ver que tua colossal grandeza espelhar-se-á diminuída no futuro.
Ah, minha terra adorada! És ainda minha mãe gentil, amada... és minha Pátria, Brasil!
Não
mais é esplêndido o teu berço. O som do teu mar traz apitos de óleo cru
e a luz do teu céu se cobriu de fumaça. És florão deflorado à luz
sombria de um mundo novo.
Onde se perderam as terras garridas? Onde as flores dos campos risonhos, a vida dos bosques, os amores?
Deus te salve, ó Pátria amada!
Tua
bandeira é ainda o lábaro estrelado. Morreu o amor eterno? E o
verde-louro de tua flâmula, se inda diz da tua glória passada, cala-se
sobre a paz de teu futuro.
E se ergueres a clava, será a da justiça? Correrão teus filhos à luta? Não temerão, mesmo te amando, a própria morte?
Ah, minha terra adorada! És ainda minha mãe gentil, amada... és minha Pátria, Brasil!"
(Rodolfo Barcellos)