sábado, 24 de março de 2012

Outonal



Hoje sou apenas madeira de folhas esparsas,
Galhos tortuosos, ductos labirínticos falidos
Da vívida seiva de outrora...
Vazia de qualquer guarnição,
Ao expectador desatento uma inóspita visão.
Pois engana a aparência, 
fortes e profundas são minhas raízes!

Na penumbra outonal, da luz que desce...
Silente... Sem pressa, nua e ocre,
firme em terra fecunda, espero
minha nova e aconchegante roupagem...
O verdejante agasalho, de um merecido
tempo vindouro, por mim se alastrar...

Oh, Crespusculário da redenção,
lança em mim as bênçãos de um afago!
Nas noites que logo invadem,
dos amanheceres de relva orvalhada
e coloridos solos folhados!

Que permaneça longínquo o derruir da primavera,
a morte das folhas nascidas em dia ainda frio,
desabrochadas no floral esplendor da estação,
tingidas ao abrasivo calor de uma existência...
Mas, que guarde ocluso o perfume das emoções vividas,
como o gene essencial aprendido de um amanhã!

Deixa-me inteira desfolhar! 
Para que em exuberância colorida,
depois ainda que sobreviva ao inverno...
Centelha de vida eu possa florir
às primícias de um raio divino solar!

(Juliana Alves)

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