Nocturnamente te construo
para que sejas palavra do meu corpo.
Peito que em mim respira
olhar em que me despojo
na rouquidão da tua carne
me inicio
me anuncio
e me denuncio.
Sabes agora para o que venho
e por isso me desconheces.
Diz o meu nome, pronuncia-o.
Como se as sílabas te queimassem os lábios.
Sopra-o com a suavidade de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça.
Porque sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno.
Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferida
exausta dos combates
em que a ti não consegui vencer.
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem.
E é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos.
No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
Porque sou o eu dentro de ti
que te conforta
Sou o eu dentro de ti
a única veia que me dói,
Sou o eu dentro de ti
preso nessa gaiola
Que não vê o mundo de ponta a ponta
Esperando,
como se essa vida
fosse apenas de faz de contas.
(Mia Couto)
texto lindo, adorooooo, hehe..
ResponderExcluirtenha uma ótima semaninha...
abraços meu!
=)
Um belo texto, mas doloroso...
ResponderExcluiradorei!
Bjss
*-*