sábado, 7 de abril de 2012

Todo Poeta


Julgo que todo poeta tem que ser assim...

Ter um quê de incompletude, ser pedaço desgarrado do universo, que clama magneticamente por sua outra parte... Que não se sabe o que ou onde está, por onde anda em ciclos infinitos a vagar. Para saber valorizar a completude das pequenas alegrias, dos pequenos momentos plenos que agregam real valor a vida.

Um quê de amor profundo, muitas vezes não correspondido, por amar o que nunca de fato conheceu ou existiu, e saber reconhecer e valorizar com os olhos do coração quando o lapso de uma alma incomum aos seus olhos corpóreos se apresentar.

Um quê de andarilho, errante pelos caminhos do pensamento e da vida, pelos labirintos do tempo e pela espera eterna do que nunca chega. Para saber que mais importante que o final da jornada, são as lições aprendidas na trajetória, e que quando sentir a paz em seu coração lhe dizer que é porto seguro de se ancorar, saiba ouvir e obedecer.

Um quê de tristeza, para saber-se sabe(dor) dos martírios da existência, e com conhecimento de causa poder extravazar-lhes da alma, transmitindo experiências, criando cenas, luzindo arte.

Um quê de incompreendido e transgressor, por ser revolucionário das leis e dos costumes, com sua arte libertadora das amarras da inquisição, onde a livre expressão dos sentimentos e ideias desvenda o coração e dissolve os limites da razão, devolvendo a lucidez da liberdade à alma antes cativa pelos limites do corpo.

Um quê de orgulho, pra não se dizer tolo, um total sensível e piegas, que no fundo rasgaria sua própria alma e daria de esmola aos outros. Negaria seus sentimentos e razão, abdicaria de toda riqueza e do trono majestoso da auto-consideração pelas causas perdidas: do amor, do perdão, da amizade e da caridade.

Um quê de loucura para manter aceso o fogo do sentir, mesmo que lhe doa, mesmo que lhe consuma, e das cinzas se faça a arte que vá engrandecer e ser admirada por outros, que nem ao menos sabem o quanto lhe custou, quanto sangue seu foi tinta da escrita com que suas almas se identificaram e seus corações agregaram para si.

Um quê de sabedoria, para reconhecer e admirar os detalhes da vida, as belezas escondidas nas facetas, até mesmo, das tristezas e misérias, e poder absorver, recriar, enaltecer e transmiti-las em forma de verdade, de sonhos a serem abraçados por quem a esperança já se esvaiu.

Um quê de altruísmo, para saber se doar até a última gota, de sangue, de lágrima, de inspiração, de tinta de uma caneta incansável, que transcreve emoções, belezas, amor, decepção, ternura e amargura, tudo com os fios-luz da poesia, sem perder o encanto e ter a certeza que não serão mais suas, serão dos outros... Propriedade adquirida sem nenhum custo, para dar nomes e feições ao que sentem e não conseguem falar ou calar.

E um quê daquela mesma esperança, dos outros perdida, recolhida e renovada pela sua fé inabalável, de que sua arte um dia seja valorizada e compreendida, abra a visão e invada o coração de muitos, plante a semente da motivação, e não seja ele só, a ser esse ser estranho no ninho desse incompreensível mundo dos sonhos mitigados.

(Juliana Alves)


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