domingo, 28 de outubro de 2012

"Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária." (Clarice Lispector)


Não sabia que era precisamente esse fracasso
 que me levaria ao lugar que desejava.  
As correntes do rio profundo foram mais generosas 
que o meu remar contra elas. 
Não cheguei aonde planejei ir. 
Cheguei, sem querer,
 aonde meu coração queria chegar,
 sem que eu o soubesse.

(Rubem Alves)

sábado, 20 de outubro de 2012

20 de Outubro - Dia do Poeta


Todo poeta tem que ter...

Ter um quê de incompletude, ser pedaço desgarrado do universo, que clama magneticamente por sua outra parte... que não se sabe o que ou onde está, por onde anda em ciclos infinitos a vagar. Para saber valorizar a completude das pequenas alegrias, dos pequenos momentos plenos que agregam real valor a vida.
 

  
Um quê de amor profundo, muitas vezes não correspondido, por amar o que nunca de fato conheceu ou existiu, e saber reconhecer e valorizar com os olhos do coração quando o lapso de uma alma incomum aos seus olhos corpóreos se apresentar.

Um quê de andarilho, errante pelos caminhos do pensamento e da vida, pelos labirintos do tempo e pela espera eterna do que nunca chega. Para saber que mais importante que o final da jornada, são as lições aprendidas na trajetória, e que quando sentir a paz em seu coração lhe dizer que é porto seguro de se ancorar, saiba ouvir e obedecer.


Um quê de tristeza, para saber-se sabe(dor) dos martírios da existência, e com conhecimento de causa poder extravazar-lhes da alma, transmitindo experiências, criando cenas, luzindo arte.


Um quê de incompreendido e transgressor, por ser revolucionário das leis e dos costumes, com sua arte libertadora das amarras da inquisição, onde a livre expressão dos sentimentos e ideias desvenda o coração e dissolve os limites da razão, devolvendo a lucidez da liberdade à alma antes cativa pelos limites do corpo.


Um quê de orgulho, pra não se dizer tolo, um total sensível e piegas, que no fundo rasgaria sua própria alma e daria de esmola aos outros. Negaria seus sentimentos e razão, abdicaria de toda riqueza e do trono majestoso da auto-consideração pelas causas perdidas: do amor, do perdão, da amizade e da caridade.


Um quê de loucura para manter aceso o fogo do sentir, mesmo que lhe doa, mesmo que lhe consuma, e das cinzas se faça a arte que vá engrandecer e ser admirada por outros, que nem ao menos sabem o quanto lhe custou, quanto sangue seu foi tinta da escrita com que suas almas se identificaram e seus corações agregaram para si.


Um quê de sabedoria, para reconhecer e admirar os detalhes da vida, as belezas escondidas nas facetas, até mesmo, das tristezas e misérias, e poder absorver, recriar, enaltecer e transmiti-las em forma de verdade, de sonhos a serem abraçados por quem a esperança já se esvaiu.


Um quê de altruísmo, para saber se doar até a última gota, de sangue, de lágrima, de inspiração, de tinta de uma caneta incansável, que transcreve emoções, belezas, amor, decepção, ternura e amargura, tudo com os fios-luz da poesia, sem perder o encanto e ter a certeza que não serão mais suas, serão dos outros... Propriedade adquirida sem nenhum custo, para dar nomes e feições ao que sentem e não conseguem falar ou calar.

E um quê daquela mesma esperança, dos outros perdida, recolhida e renovada pela sua fé inabalável, de que sua arte um dia seja valorizada e compreendida, abra a visão e invada o coração de muitos, plante a semente da motivação, e não seja ele só, a ser esse ser estranho no ninho desse incompreensível mundo dos sonhos mitigados.

(Juliana Alves)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pedra-coração


No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra em forma de coração... Em toda caminhada tropeçava-se nela, algumas vezes eu, outras vezes outros...

Eu tropeçava e recolhia, acolhia tudo o que ela me causava: espanto, dor, alegria, amor... Já outros a chutavam, uns a ignoravam, desprezavam o que dentro ela continha, alguns a admiravam, tinha quem a recolhia, mas logo a esquecia em algum lugar no meio do caminho...

E de tanto pelo caminho recolher pedras-coração, aprendi a colecioná-las. Cada uma tem sua forma: umas mais pontiagudas, outras mais perfeitas, algumas ainda sob a forma bruta, diversas lapidadas ou até desgastadas pelos escultores do tempo, umas coloridas, outras escurecidas... Mas todas têm seu valor, sua sabedoria e sua beleza revestindo a história que carregam incrustada em si e me servem de alicerce...

Pois nesse mundo de andanças a esmo é tropeçando em pedras e reconhecendo corações que aprende-se a levantar em sonhos, abastecido de fé e edifica-se de forma valorosa o templo e a escada evolutiva da vida.

(Juliana Alves)


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

De Som e Vento





Brisa-menina, levanta-se à aurora e sai trilhando levezas...
Brinca de ser vento e cursa a maestria em despertar infinitas sensações. 

Em tempestade, cria sua própria melodia, faz as folhas uivarem, orvalhando prantos, sumo das mais intensas aflições... Em calmaria, sussurra preces, arrepia desejos, alenta alegrias e afaga corpos, andarilhos incessantes dos desertos da existência, surrados por um sol que muito queima e pouco ilumina...

Segue as notas da sinfonia agridoce da vida, baila com os sábios ventos guias, que lhe ensinam a flutuar pelo marulho dos risos-fluidos que lhe dão umidade à alma.

Rubra-ventania, adentra por entre as frestas dos olhares curiosos, brinca nos jardins floridos dos corações dos que sonham alto e muito sentem.

Viaja pelas brumas do tempo... Descortina salões vazios, sopra a poeira do esquecimento, lhes pinta arco-íris na parede da memória e a decora com o tesouro dos mais amorosos sentimentos, devolvendo o raro brilho à retina opaca dos desesperançados.

Ser de som, ser de vento foi lhe destinado de berço... 
Livre e intrínseca à natureza, contagia quem se permite sentir, inquilina de quem lhe sabe apreciar e acolher.

(Juliana Alves)


terça-feira, 16 de outubro de 2012

 
"O amor não aceita amadores. 
Quando se ama, acorda-se vestido para o milagre. 
Soltos pelo riso, nunca amarrados pelo grito."

(Fabrício Carpinejar)

sábado, 13 de outubro de 2012

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

E o bichinho do Amor me contagia outra vez...



"É a primeira vez que eu me apaixono e sinto paz ao mesmo tempo. Ou encontrei o homem certo ou estou me tornando a mulher certa."

(Tati Bernardi)

...

Amor que começa fervendo no final esfria?! Amor pronto não serve, amor tem que ser construído. Mas essa coisa fria, sem encantamento me deixava tão desanimada. Antes de começar a esquentar eu já estava correndo léguas pra longe, se possível pro outro lado do mundo. Mas agora tudo começou diferente. Também não estou certa que meu sentimento por ele é paixão. Só sei que é sempre melhor quando estamos juntos. Assim fazendo coisas sem importância nenhuma. Trocando mensagens bobas pelo celular. Jogando conversa fora no MSN. Fingindo que somos apenas amigos. Amigos cheios de afinidades e desejos secretos também.
Tô deixando as coisas acontecerem como tem que ser. Eu sinto que ele tem algo especial pra me dar. E sinto também que o momento certo existe e não tarda de chegar. Sabe, faz tempo que a água não tá fria, mas quando eu cheguei ela também não estava fervendo. Será que esse é o meu momento, a minha vez?
"Deixa, deixa ser como será, quando a gente se encontrar. 
Fica combinado assim..."

(Thaise Moraes)

domingo, 7 de outubro de 2012

O que eu posso fazer, se sou uma mulher com um coração de menina!?


"Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, 
 eu tiro um arco-íris da cartola. 
E refaço. Colo. Pinto e bordo. 
Porque a força de dentro é maior. 
Maior que todo mal que existe no mundo. 
Maior que todos os ventos contrários. 
É maior porque é do bem. 
E nisso, sim, acredito até o fim. 
O destino da felicidade, me foi traçado no berço"

(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A Outra Margem


O caminho é um laborioso pouso nas incertezas do próprio caminho, no esmurrar as pontiagudas facas como se fossem dores a verter do âmago.
É um estado de inércia a divisão dos eixos da cidade nos olhos da criança, entardecid
a de sonhos vãos e regados com água de chuva e concreto das ruas que pisam seus pés.
Desmedimos o amor como quem colhe migalhas e as semeiam
para pombos, tão mais esfomeados de algum sentimentos, naquele canto de praça, enquanto que o badalar dos sinos da pequena igreja convida os homens a alinharem-se por dentro (de seus (e)ternos), mesmo que num fechar abrupto de olhos.
E que não seja breve, a persistência de se continuar indo, indo... como rio que segue, sem abandonar suas águas, um tanto quanto barrentas, é verdade. Mas suas!


(Samara Bassi)


Fonte: Uma superfície de gelo ancorada no riso - A Outra Margem

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O Tempo de Outubro...

O tempo tem sido um mestre supremo, sempre bendizendo alegrias, enaltecendo belezas, prismando luzes em cores vivas no  meu coração... No tratado pacífico que lhe fiz, a cláusula principal é que ambos só nos ajudaríamos. Ele com seus dedos de cura e elixir de felicidade fazem de mim seu molde, a argila ganhando forma, conforme o que ele me apresenta em sua sábia pontualidade. E eu, não mais o atravancaria em seu inexorável caminho, sob nenhuma circunstância o apressaria, sob o julgo tolo da urgência. O deixaria livre para cumprir com seu papel de apascentar meus sonhos, amadurecer de forma doce os meus frutos, e desabrochar os meus botões com tanto afinco cultivados, pois a paciência é o preço da perfeição.
E nessa exultação temporal, evoco: Que venha Outubro! Venha com a força das infinitas possibilidades e com a calmaria dos alentos, das esperanças do por vir... Venha com milhares de sorrisos, mastigando medos e alargando-se aos desejos sinceros do coração. Que venha bailando sobre ventos-preces espalhando a aurora da vida nas voltas, que as cordas do tempo-ventríloco fazem a Terra dar.

(Juliana Alves)

Coração Primaveril

  Das invernais madrugadas não me recordo mais. Senhor dos tempos da ventura despiu-me de toda a névoa, vestiu-me de amanhecer...